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Embora a América do Sul se destaque como uma das regiões mais biodiversas do mundo, a sua
combinação de biomas únicos, localização geográfica e variados gradientes climáticos também
a torna particularmente suscetível a invasões biológicas, especialmente moluscos de água doce.
O presente estudo teve como objetivo fornecer dados abrangentes sobre a ocorrência e a
expansão de moluscos não nativos de água doce na América do Sul. Para aprimorar nossa
compreensão da distribuição dessas espécies não nativas apresentamos informações temporais
e geográficas de cada um dos registros em todo o continente. Para isso, realizamos uma revisão
sistemática de dados em duas plataformas globais de acesso aberto: SpeciesLink e GBIF. As
espécies registradas como não nativas na América do Sul, foram obtidas em estudos
recentemente publicados pelo grupo de especialistas em moluscos introduzidos da América do
Sul (eMIAS). O levantamento da distribuição de moluscos não nativos na América do Sul
revelou 2826 registros de ocorrência e uma taxa variável de expansão por espécie. Destes, 13
espécies de moluscos não nativos foram mencionadas no continente. A espécie invasora
Melanoides tuberculata apresentou o maior número de ocorrências (n = 919; 32,52%), seguida
por Corbicula fluminea (n = 867; 30,68%). Os moluscos não nativos de água doce foram
registrados em 12 tipos distintos de habitats aquáticos no continente, com predominância em
ambientes lóticos (n = 1708; 60,44%), especialmente em rios, que concentraram a maioria das
ocorrências (n = 1333; 47,17%). As ocorrências das espécies abrangeram 10 países sul-
americanos, com destaque para o Brasil (n = 1533; 54,25%) e a Argentina (n = 617; 2,43%).
As taxas anuais de expansão variaram entre as espécies de moluscos não nativos no continente,
com os maiores valores observados para Galba schirazensis (0,19; 19,46%), Limnoperna
fortunei (0,18; 18,10%), Galba truncatula (0,18; 17,69%), Sinotaia quadrata (0,14; 14,39%) e
Tarebia granifera (0,14; 13,90%). O primeiro registro de moluscos não nativos de água doce
na América do Sul ocorreu em 1893, com uma única ocorrência (0,04%). A partir da década de
1980, houve aumento nas observações, com sete espécies (n = 40; 1,42%), seguido por
crescimento na década de 1990, com oito espécies (n = 116; 4,10%). O pico ocorreu na década
2000, com nove espécies e 1281 ocorrências (45,33%). Já a década de 2010 teve menos
ocorrências (n = 379; 13,41%), mas o maior número de espécies (11). Os dados sintetizados
neste estudo evidenciam o elevado potencial dos moluscos não nativos para invadir novos
ambientes, destacando áreas prioritárias para ações de prevenção e controle, dadas sua alta
incidência e taxa de expansão. Essas informações são fundamentais para subsidiar estratégias
eficazes de manejo e conservação voltadas à manutenção das comunidades nativas, proteção
dos ecossistemas afetados por essas invasões e a continuidade de serviços ecossistêmicos. |
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