Desdobramentos do Eu : um ensaio sobre a manifestação do duplo e do infamiliar nas obras: "O nariz" e "A cabeça cortada de dona justa"

Abstract

O presente trabalho se propõe a analisar as obras O Nariz (1836), do escritor russo Nikolai Gógol e A cabeça cortada de dona Justa (2022), da autora brasileira Rosa Amanda Strausz. Tendo como categoria/eixo temático o mito do Duplo, especificado por Nicole Fernandez Bravo em entrada do Dicionário de mitos literários (2005), e o conceito psicanalítico do Infamiliar, desenvolvido por Sigmund Freud no ensaio O infamiliar (2019), objetiva-se, para tanto, examinar a presença desses dois conceitos por um viés psicossocial dos personagens principais, bem como pela presença de elementos fantásticos em ambas as narrativas. A partir de tal análise, delineamos os principais mecanismos de desdobramentos do “Eu” — característica das narrativas nas quais prevalece o conceito de insólito, a fim de compreender a relação entre o “Alter-ego” e o contexto sociocultural no qual está inserido. O estudo foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa e comparatista. Tomamos como aporte teórico os pressupostos de Brunel (2005), Freud (2019), Candido (2006), Todorov (2017) e Nitrini (2000). Concluiu-se que, a partir dos desdobramentos observados, o tratamento da dualidade e infamiliaridade no texto literário, ainda que em diferentes espaços de tempo, permite uma possível leitura acerca da natureza humana e o mundo que a envolve. Por fim, espera-se que ao término deste trabalho, possamos ter contribuído para a discussão teórica sobre a literatura fantástica, o estranho, o maravilhoso e os submundos do homem, tópicos que unem os campos da literatura e psicanálise.