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Ao longo da história, observa-se que as mulheres foram, em diversas culturas,
destinadas a funções sociais específicas, que por muitas vezes seu papel foi
associado ao ambiente doméstico e o cuidado familiar. Papel esse, que
começa desde a sua criação, enfatizando um modelo de comportamento,
estereótipo ou forma de viver, o que também pode estar conectado à cultura
cristã predominante. Essa influência se reflete na vida das mulheres até os dias
atuais, especialmente dentro de uma sociedade patriarcal e das famílias mais
tradicionais e religiosas. Com isso, é possível perceber que, em diversas
religiões e tradições, a ideia de submissão atribuída às mulheres tem sido, em
diversos contextos, associada à obediência tanto a uma figura divina quanto à
autoridade masculina, sendo por vezes utilizada como argumento para
sustentar que ir contra as normas doutrinárias poderia acarretar algum tipo de
condenação. Dessa forma, a mulher que se recusa a seguir as doutrinas
religiosas costuma ser associada a características negativas, como a rebeldia,
o pecado e a perversidade. Já aquelas que reivindicam sua autonomia e lutam
por liberdade acabam sendo marginalizadas socialmente. Em contrapartida, as
mulheres que se submetem às normas estabelecidas são exaltadas como
virtuosas, representando o ideal feminino cultivado pela tradição. A partir dos
contos literários “La aventura del ángel” de Emilia Pardo Bazán; (1897) e “La
muñeca menor” de Rosario Ferré (1976), será refletido e analisado o
surgimento da mulher no contexto místico dentro da religião cristã,
considerando as figuras emblemáticas de Eva e Lilith sob uma perspectiva de
comportamento, educação e submissão, bem como a influência disso na vida
das mulheres perante a sociedade. Como base teórica, serão utilizados “O
Segundo Sexo” (1967), “Género y religión: En busca de un modelo de análisis”
(2019) e Roberto Sicuteri “Lilith a lua negra”(2023). Em O Segundo Sexo,
Simone de Beauvoir (1967), analisa aspectos sociais relacionados à condição
feminina, abordando como a mulher é educada desde a infância para cumprir
um papel socialmente moldado, sendo frequentemente percebida como o
"outro" em relação ao sujeito masculino. Já na obra Género y religión: En
busca de un modelo de análisis (2019), discute-se a representação de figuras
emblemáticas em diferentes tradições religiosas, incluindo Eva e Lilith no
contexto judaico-cristão, destacando as múltiplas interpretações dessas
personagens em determinadas perspectivas religiosas. Por fim, em Lilith: a lua
negra, Roberto Sicuteri (2023) centra sua análise na figura de Lilith,
apresentada como a mulher insubmissa que rompe com as normas
estabelecidas. Por essa razão, ela é representada em algumas tradições como
bruxa, rebelde, sedutora e, por vezes, como um “demônio feminino”. Segundo
mitos judaicos, Lilith é apresentada como a primeira mulher de Adão, anterior a
Eva, sendo rejeitada por se recusar a submeter-se. |
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