A entrevista no livro didático de português: uma investigação da relação entre oralidade e escrita

Abstract

A fala não tem, na maioria das escolas, a atenção merecida, uma vez que há uma falsa crença de que ela já faz parte da vida das pessoas e não precisa ser matéria de sala de aula. A partir disso, surge um forte preconceito em relação à fala, delegando-a a um nível inferior e colocando a escrita como a modalidade superior a oralidade. Neste sentido, este estudo teve como objetivo geral investigar a natureza da abordagem que os livros didáticos de Língua Portuguesa dos níveis fundamental e médio fazem do gênero entrevista e como objetivo específico: a) descrever e interpretar as diferentes abordagens do gênero entrevista nos diferentes livros didáticos; b) analisar a relação oralidade e escrita na abordagem e direcionamento das propostas de produção textual do gênero entrevista nos livros didáticos; c) comparar as diferentes perspectivas de abordagem das produções textuais suscitadas a partir do gênero entrevista. Para tanto, foi analisada as abordagens e as propostas de produção textual do gênero entrevista em 03 (três) coleções de livro didático do ensino fundamental II e 03 (três) do ensino médio. O interesse em realizar esta pesquisa originou-se da curiosidade de saber como o gênero oral entrevista é abordado nos livros didáticos do ensino fundamental e médio, uma vez que, na maioria dos livros didáticos, não há propostas de produção de gêneros orais e quando aparecem propostas, geralmente, é fornecido ao aluno apenas o nome do gênero a ser produzido – debate, seminário, júri simulado etc. –, esperando que o discente consiga fazer a produção sem o apoio necessário do livro didático na abordagem e direcionamento desses gêneros. Esta pesquisa é de cunho qualitativo-interpretativo em que a visão do pesquisador é parte integrante da análise dos dados. Para realização da análise do corpus, estabeleceu-se uma conjunção teórica na qual figuram os fundamentos sobre a fala e a escrita defendidos por Koch (2000), Marcuschi (2008; 2001; 2005), PCNEM (2000), PCN (2001), RCEMP (2006), Cavalcante e Melo (2006), entre outros. Concluiu-se que a natureza da abordagem que os livros didáticos de Língua Portuguesa dos níveis fundamental e médio fazem do gênero entrevista é voltado para a modalidade escrita, apesar de esse gênero ser primordialmente oral, os LDs não estabelecem eficazmente uma relação da oralidade com a escrita, limitando a modalidade oral a mero suporte para a produção escrita.