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Nossa análise tem como objeto de pesquisa o discurso autoritário materializado no filme
Fahreinheit 451 do diretor francês François Truffaut. O filme baseia-se no romance de ficção
científica, escrito por Ray Douglas Bradbury, publicado pela primeira vez em 1953. Nosso
objetivo geral consiste em verificar, no contexto dessa obra, a presença de possíveis estratos
discursivos e interdiscursivos que evoquem a constituição de discursos autoritários propostos
a partir do cariz distópico desse texto fílmico e como objetivos específicos, em um primeiro
momento, observar como esses discursos interferem na ação das personagens tanto no sentido
de levá-las a reproduzir matizes ideológicos assentes no mecanismo social vigente como, de
acordo com a nossa hipótese, na possibilidade de fomentar bases de resistência desencadeadas
a partir da conjugação de interesses coletivos voltados para o enfrentamento e a superação
desses discursos e, em um segundo momento, avaliar através de quais mecanismos - sociais,
culturais, políticos e econômicos – se configura essa interpelação ideológica materializada no
e pelo discurso. Para fundamentar a nossa análise, nos valeremos da vitalidade e atualidade dos pressupostos teóricos pensados por Mikhail Bakhtin e seu Círculo, os quais lançam luz
sobre os estudos literários e linguísticos e, aqui, ganham força ao serem deslocados para o
campo da análise fílmica nas categorias do dialogismo, do ato ético, da exotopia e da
ideologia. No cenário da Teoria do Cinema, convocamos os estudos de Robert Stam que,
dentre outros aspectos relevantes para a nossa análise, é responsável por aproximar os estudos
de Bakhtin e seu Círculo da teoria cinematográfica e, no campo da Análise Dialógica do
Discurso, as contribuições de alguns estudiosos que se debruçaram sobre a obra de Bakhtin,
como Beth Brait (2005, 2006), Adail Sobral (2005), Carlos Alberto Faraco (2003), Valdemir
Miotello (2005), Marilia Amorim (2006) e José Luiz Fiorin (2006). No breve recorte proposto
por essa análise, pudemos observar a plausibilidade em vincular algumas categorias
formuladas por Mikhail Bakhtin à análise fílmica. Verificamos a presença de estratos
discursivos e interdiscursivos que evocam discursos totalitários, sendo esses estratos
materializados no contexto intercomunicacional, levando os sujeitos a reproduzirem matizes ideológicos assentes no mecanismo social vigente, contudo, percebemos que o campo do
discurso é heterogêneo e aberto a interpretações e significações múltiplas. |
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