Análise de ancestralidade da população de Gangarras do Bandeira/Brejo da Madre de Deus - PE

Abstract

A variabilidade étnica presente na população brasileira é o produto de um complexo processo de miscigenação entre indivíduos ameríndios, africanos e europeus que ocorreu durante o período colonial. A distribuição da contribuição genética desses três grupos ao longo do território brasileiro não ocorreu de forma homogênea, ou seja, a proporção de ameríndios, africanos e europeus difere significativamente entre as regiões geográficas.Pequenas populações, tais como os Gangarras do Bandeira, oriundos do Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, vivem isoladas e ausentes de seu verdadeiro passado histórico, estes, por exemplo, acreditando que são descendentes de seus antigos colonizadores, os holandeses. Autilização de estudos com marcadores genéticos surge frente a estas dificuldades trazendo, por meio de análises no DNA, uma resposta para fatosque historicamente não foram esclarecidos. O presente estudo objetivou analisar a composição genética dos indivíduos pertencentes à Comunidade dos Gangarras do Bandeira através de marcadores moleculares de ancestralidade. Foram analisadas 17 amostras de DNA de indivíduos da comunidade. A genotipagem dos indivíduos foi realizada através de RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism) e sequenciamento direto dos marcadores. A análise das sequencias foram realizadas utilizandosoftwares online, tais como o MITOMASTER e HaploGrep, que auxiliaram na elucidaçãoda ancestralidade materna, enquanto o Structure foi utilizado para a verificação da contribuição étnica em cromossomos autossomos. As observações feitas a partir dos resultados para o cromossomo Y permitiram a constatação da grande contribuição africana paterna, embora as análises feitas através do DNAmt e dos AIMs indicarem que a maioria dos indivíduos pertencentes ao Bandeira tem sua origem ameríndia. Desta forma, os resultados analisados descrevem uma população com 37% de contribuições ameríndias, 31,5% africanas e 31,5% europeiaspara marcadores nos cromossomos autossomos; uma linhagem paterna com frequência de 67% de origem africana, 22% europeia e apenas11 % ameríndia e uma contribuição materna de 67% ameríndia e 33% europeia. Estes resultados diferem dos registros históricos encontrados para esta comunidade, levantando a hipótese de que estes indivíduos sejam descendentes de holandeses. Na amostra analisada não foram observadas a presença de haplogrupos pertencentes ao domínio da Holanda, no entanto, uma amostragem maior será necessária para observar a presença de marcadores específicos para populações europeias e holandesas.