A representatividade do corpo feminino em "A via crucis do corpo" de Clarice Lispector, e "Ao homem que não me quis", de Ivana Arruda Leite

Abstract

Nesta monografia, realizamos um estudo das representações do corpo feminino nas obras A via crucis do corpo, de Clarice Lispector, e Ao homem que não me quis, de Ivana Arruda Leite, visando promover uma discussão sob a perspectiva de gênero e sexualidade na literatura de autoria feminina. A metodologia utilizada caracteriza-se pela natureza bibliográfica de cunho qualitativa, por meio da qual buscamos realizar uma leitura-interpretativa para mapear e explorar o objeto de estudo. Para tanto, selecionamos um total de quatro contos, dois de cada escritora, como corpus deste trabalho, no qual objetivamos responder aos seguintes questionamentos: De que forma as personagens femininas aparecem caracterizadas nas narrativas das escritoras e que lugares sociais elas ocupam? Quais as estratégias utilizadas pelas personagens femininas para se desvencilharem das representações estereotipadas do corpo feminino como submisso, imperfeito e imobilizado? Quais os aspectos que se aproximam e se diferenciam na representação do(s) corpo(s) femininos em A via Crucis do corpo e Ao homem que não me quis? Para fundamentar a discussão, recorremos às contribuições de diversos estudiosos. Acerca da Literatura contemporânea, os estudos de Dalcastagnè (2012), Schollhammer (2009) e Jaguaribe (2007). Em relação à discussão de gênero, representação e identidade, buscamos discutir embasados em Zinani (2013), Butler (2017), Hall (2006), Beauvoir (2016), dentre outros. Sobre o percurso histórico da mulher como escritora, utilizamos Perrot (2013) e Telles (2010). No que se refere ao corpo feminino, buscamos embasamentos na história da sexualidade discutida por Foucault (2013), na história da sexualidade no Brasil apresentada por Del Priore (2014) e na representação do corpo feminino na literatura segundo Xavier (2007). Os resultados obtidos, a partir das análises, mostraram que os corpos das personagens femininas representados pelas duas autoras estudadas se aproximam na busca pela liberdade em relação às amarras disciplinares impostas historicamente pelas instituições (família, igreja, dentre outras) e se distanciam, pois, percebemos as personagens femininas de Clarice Lispector ainda moldadas pela forte disciplina, que gera a negação do desejo ou a normatização ao considerado aceitável. Em Ivana, ao contrário, as personagens fogem ao estabelecido como norma, são mulheres marcadas pela segurança, dona dos seus destinos, que vivem plenamente a sexualidade, marcada, pela entrega às vontades e ao prazer. Assim, esperamos que este trabalho possa servir como referencial para um melhor entendimento sobre a relação com o corpóreo que permeia a literatura feminina e que possa suscitar novas discussões a partir do tema tratado.