A leitura do cordel de autoria feminina à luz da produção poética de cordelistas paraibanas do coletivo Marias da poesia: da crítica à sala de aula

Abstract

A produção literária realizada por cordelistas mulheres é entrelaçada por diversos aspectos sociais, de gênero e de classe. Desde a matriarca do cordel Maria das Neves até o contexto atual, o espaço de escrita literária das mulheres ainda é contestado. Por isso, busca-se com este trabalho compreender a escrita de mulheres cordelistas paraibanas a partir do corpus selecionado para análise Nenhuma mulher merece ter seu direito negado do coletivo Marias da Poesia da cidade de Campina Grande (PB). Considera-se também a importância de incluir o cordel e a produção feminina no espaço de sala de aula, tendo em vista a pouca presença de gêneros que integram a cultura popular. Sendo assim, esta pesquisa quali-quantitiva tem como objetivos i) abordar sobre a historicidade do cordel, levando em consideração os hibridismos no gênero e a influência de três elementos fundamentais: oralidade, memória e tradição; ii) discutir sobre as questões de gênero e as possíveis influências no campo literário do cordel a partir de uma breve análise documental do acervo de cordéis da Biblioteca Átila de Almeida; iii) Apresentar uma proposta dialógica de leitura literária do cordel coletivo para uma turma do 1º ano do Ensino Médio como forma de contribuir para ampliação da experiência cultural e literária. Para tratar sobre o panorama histórico do gênero cordel, contribuem as leituras de Ayala (1997; 2016), Abreu (1993), Marinho e Pinheiro (2012), Luyten (1983), entre outros. Acerca dos hibridismos no cordel, utilizam-se as discussões teóricas de Rodrigues (2016), Clanclini (1999), Bhabha (2003) e Burke (2003). No que se refere às relações entre memória, tradição e oralidade, Le Goff (1990). Para a leitura da obra, as relações entre gênero e escrita literária, lançamos mão de Lauretis (1994), Louro (2003), Butler (2017). Na perspectiva teórica sobre leitura, experiência literária e o cordel, contribuíram Dalvi (2019), Alves (2013), Kelafás (2012) e Zumthor (2013) ao tratar sobre leitura e performance. Os sentidos construídos sobre a a obra apontam para a reação da mulher contra o machismo estrutural e à desigualdade de gênero. Notou-se também que é por intermédio do cordel que as cordelísticas utilizam do instrumento literário para tratar sobre temáticas acerca do feminismo e da denúncia social a partir da autonomia e crítica do eu-lírico feminino, além das diferentes representações femininas trazidas nessas produções. Apresentamos resultados, ainda que preliminares, da contribuição do cordel para o contexto da leitura no ambiente escolar, contemplando aspectos da escrita de mulheres cordelistas.