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Esta pesquisa aborda a construção do perfil feminino no romance histórico, através de
uma nova visão dos acontecimentos, proporcionando à personagem que havia ficado à
margem da História o destaque de ser protagonista.O narrador mostra uma nova versão
dos fatos,o que acontece com a personagem Filipa Raposa em Os rios turvos (1993), de
Luzilá Gonçalves Ferreira.Daí, surge a curiosidade de tentarmos melhor compreender os
fatos desse passado descrito pela autora que os expõe, buscando evidenciar o que ficou
nas lacunas dos textos históricos. Ao mesmo tempo, tentamos demonstrar a correlação
entre Literatura e História.Partimos da problemática de que a autora usa o discurso
retórico para elaborar sua narrativa, expondo fatos históricos através da
ficcionalidade,para poder elaborar o perfil da protagonista do romance, ao mesmo
tempo em que mostra os costumes da época do período colonial.Assim, buscou-se
analisar o romance histórico como uma narrativa que faz uma releitura da História,
trazendo a personagem Filipa Raposa, esposa de Bento Teixeira, visando descrever e
interpretar como ela é representada no romance Os rios turvos: uma mulher à frente de
seu tempo, ou seja, com uma versão crítica e reflexiva da História.Temos como hipótese
que a prosa de Luzilá Ferreira representa uma escrita de autoria feminina
contemporânea, que surge a partir do século XX, apresentando, na sua obra, um perfil
de mulher independente, mas vivendo em uma época em que não tinha permissão para
ter tal postura, pois remete a um per íodo da História no qual o papel feminino era ficar
submisso aos desejos do patriarca da família. Isso reporta a um período histórico, como
no caso da Inquisição, por se tratar de um romance denominado romance histórico, em
que estão presentes as figuras históricas de Bento Teixeira e Filipa Raposa. Além disso,
há os costumes da época, que são apresentados tanto pelos personagens como pelo
narrador, que, aos mostrá-los, faz inúmeras releituras, expostas através do discurso
retórico.A metodologia utilizada foi uma análise comparada do romance Os rios turvos
com a aplicação da teoria sobre o romance histórico, sobre a construção da personagem
e os aspectos da própria História e cultura do período colonial, que expressam a mescla
entre ficção e História.Diante disso, utilizamos como aporte teórico os estudos sobre o
romance histórico, como os descritos por: Maria de Fátima Marinho (1999), Georg
Lukács (2010) e António Esteves (2010), sendo este últimoum estudioso do romance
histórico brasileiro. Quanto aos aspectos históricos sobre os costumes e a posição da
mulher nessa época,usamos: Mary Del Priori (2011), Maria Ângela D‘Incao (2011),
Emanuel Araújo (2011), Jane Edith Hahner (2003), Simone de Beauvoir (1970),
Michelle Perrot (2012) e Judith Butler (2013).Sobre a personagem, nos baseamos em:
Cristina Vieira (2008), Antonio Candido (2007), Edward Morgan Foster (1969) e
Aguiar e Silva (2009).Obtivemos o resultado de que a autora constrói uma personagem
transgressora dos costumes da época, ao mesmo tempo em que descreve uma
personalidade delicada, mas que pode se tornar taciturna e vingativa, como a água de
um rio que é limpa, transparente e pura, segundo seu curso normal, mas caso ocorra
alguma mudança, pode tornar-se escura e sombria. Por fim, demostramos que as teorias
sobre as narrativas históricas contemporâneas expõem uma nova visão sobre fatos
passados, buscando evidências nas entrelinhas dos escritos históricos, através da mescla
entre os estudos Literários e os Históricos. |
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