Marcadores sociais de gênero e sexualidade no diagnóstico e tratamento da loucura feminina: um ensaio a partir da experiência em uma clínica psiquiátrica

Abstract

O presente trabalho constitui-se de um ensaio inspirado nas memórias da minha experiência de estágio extracurricular em Serviço Social na Clínica Psiquiátrica Dr. Maia, na cidade de Campina Grande – PB, no qual problematizo os discursos sobre a loucura feminina na instituição, tendo em vista que a leitura que a maioria dos funcionários faz e diz a respeito dos comportamentos das mulheres enfatiza que, durante a internação, se mostram mais inquietas, mais agitadas, mais agressivas e mais “taradas” do que os homens. A partir dessa realidade, problematizo como é articulada a influência da naturalização de um condicionante de gênero no diagnóstico da “loucura” como componente de uma suposta “natureza feminina” e de que forma o biopoder se materializa sob a forma da biopolítica para controlar os corpos dos indivíduos e as populações por meio do dispositivo da sexualidade. A análise resulta de provocações com que tive contato ao integrar como bolsista a equipe do Programa de Extensão Universitária “Todxs Juntxs Somos Fortes”, que problematiza como marcadores sociais da diferença se articulam e se retroalimentam, compondo as abjeções que marcam diferentes zonas marginais e práticas culturais no espaço onde este programa desenvolve suas ações. As provocações epistemológicas articuladas por um conjunto de saberes subalternos me forneceram argumentos sobre como os loucos são tidos na sociedade de controle como corpos abjetos que necessitam de regulação e normatização para que a heteronormatividade siga seu curso de atualização da norma. Além disso, discuto como os discursos de gênero que prevalecem e são reproduzidos pela instituição influenciam na conformação de um diagnóstico sobre a loucura feminina.