Resumo:
Bothrops erythromelas, popularmente conhecida por jararaca-da-seca, é uma serpente
endêmica da Caatinga brasileira. O envenenamento causado por ela apresenta um quadro
patológico caracterizado por dor local, edema, eritema e equimoses. A ação também induz
alterações sistêmicas que resultam em uma coagulopatia de consumo, o qual torna o
sangue da vítima incoagulável. O tratamento consiste na administração do antiveneno
botrópico, em cujo pool não está o veneno de B. erythromelas. Mesmo assim, o antiveneno
apresenta eficácia para neutralizar os processos fisiopatológicos sistêmicos. Entretanto,
exibem reduzida eficácia terapêutica nos danos tissulares no local da picada. Assim, o
presente estudo teve por objetivo investigar a patogênese local e hematológica modulada
pelo veneno de B. erythromelas, bem como explorar alternativas complementares a
antivenômica, que visem a prevenção e o tratamento dos danos causados pela espécie. Para
isso, utilizaram-se testes de coagulação (in vitro) em modelos experimentais com plasma
humano. Após a injeção do veneno intradermicamente do dorso de camundongos swiss, foi
verificada a resposta hemorrágica. Foram realizados ensaios de indução de edema de pata e
hemogramas (in vivo) em camundongos. Adicionalmente, tecidos lesionados foram
dissecados e submetidos à análise histopatológica. Para os ensaios de neutralização de
dano tecidual, foi adotado o teste edema de pata. Para tanto, diferentes concentrações de
Ácido Etilenodiamino Tetra-Acético (EDTA) e heparina sódica foram pré-incubadas a
37°C e administradas via intraplantar em camundongos swiss. Confirmou-se que o veneno
de B. erythromelas apresenta um alto potencial coagulotóxico, não sendo possível estimar
a dose mínima coagulante. O veneno apresentou uma dose mínima hemorrágica estimada
em 3,5 µg, com a hemorragia deflagrada, principalmente, na hipoderme. Quanto ao efeito
edematogênico, sua dose mínima foi de 1,75 µg havendo separação dermo-epidérmica. O
edema modulado pelo veneno não apresentou resolução em até 12 horas após o
envenenamento. Esse efeito foi neutralizado pelo EDTA e pela heparina sódica. O veneno
induziu um quadro de leucopenia, caracterizado pela queda de monócitos, neurófilos e
linfócitos. Esse conjunto de dados sugere que o veneno de B. erythromelas apresenta um
alto potencial coagulante. Durante o estabelecimento da lesão hemorrágica, que foi
percebida na hipoderme, o veneno causou alterações na pele de camundongos. Seu efeito
edematogênico comprometeu a junção dermo-epidérmica. O EDTA e a heparina sódica se
revelaram agentes promissores para serem utilizados na terapia antivenômica, uma vez que
inibiram o efeito edematogênico do veneno de B. erythromelas.
Descrição:
CAVALCANTE, J. dos S. Toxinologia e terapêutica: Atividades biológicas do veneno da serpente Bothrops erythromelas (Amaral, 1923) (Squamata, Viperidae) e neutralização do dano tissular modulado pelo veneno. 2019. 150f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas)- Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2019.