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O Brasil é um dos líderes no consumo global de agrotóxicos desde 2008, com consequências alarmantes para a saúde coletiva. Entre 2010 e 2020, o número de agrotóxicos registrados mais que dobrou, evidenciando os efeitos de uma série de desmontes governamentais de leis ambientais. A aplicação de agrotóxicos é, provavelmente, a única atividade em que a contaminação do ambiente de produção e trabalho é intencional. Desse modo, a população, especialmente agricultores(as) e trabalhadores(as) rurais, enfrenta envenenamento diário e é exposta aos efeitos agudos e/ou crônicos devido à acumulação de agrotóxicos no organismo. A subnotificação de intoxicações revela a falta de instrução sobre a nocividade dos agrotóxicos e o despreparo dos profissionais de saúde em correlacionar causa e efeito. Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar os casos de câncer em pacientes do município de Boqueirão atendidos na Fundação Assistencial da Paraíba (FAP) no período de 2018 a 2022. Trata-se de uma pesquisa quantiqualitativa, realizada em prontuários. Foram coletados dados pessoais, endereço, ocupação, tipo e localização do tumor e histórico de utilização de agrotóxicos, prática comum nesse território. Os dados coletados foram organizados em planilhas de Excel e apresentados em gráficos de forma descritiva. Foi encontrado um total de 9274 casos de câncer registrados na FAP entre 2018 e 2022 no estado da Paraíba, onde 129 (1,4%) destes ocorreram em Boqueirão/PB. Dos 129 casos, somente 110 prontuários foram localizados e destes, apenas 70 continham informação sobre ocupação do paciente. As ocupações variaram bastante, mas a que mais se repetiu foi a de Agricultor(a). Ocorreram 34 casos em agricultores e a faixa etária mais acometida foi entre 56 e 75 anos (16 casos). As principais localizações de tumores em agricultores foram na próstata (8 casos), estômago (4 casos), útero (4 casos), pele (4 casos) e mama (3 casos). O único caso encontrado que faz menção sobre uso de agrotóxicos foi o caso de um jovem de 20 anos com lesão na pele. Apesar de apenas um caso de câncer ter o registro em prontuário sobre o uso de agrotóxicos, os achados são consistentes com a literatura científica, pois já há evidências suficientes que a exposição ocupacional, na agricultura, a alguns tipos de agrotóxicos causa câncer de próstata, pele e mama. Provavelmente, há um subregistro da exposição ocupacional aos agrotóxicos no serviço de saúde avaliado. Este trabalho é parte do Projeto de PIBIC "Mapeamento dos agravos à saúde, relacionáveis ao uso de agrotóxicos, em agricultores(as) familiares e trabalhadores(as) rurais do município de Boqueirão/PB" e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UEPB. |
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