Resumo:
Na Literatura Brasileira Contemporânea a voz dos sujeitos “ex-cêntricos”, daqueles que foram
excluídos pelo centro dominante (etnocêntrico, patriarcal e opressor), ecoam e revelam as suas
capacidades (cri)ativas, desviantes e até revolucionárias. As categorias de classe, gênero, etnia,
entre outras, que eram silenciadas e passavam despercebidas pelo/no discurso social, e não eram
questionadas na Critica Literária, se fazem cada vez mais visíveis e problematizantes do sistema
patriarcal-capitalista em que se inserem. É a literatura uma das muitas formas que os
marginalizados se utilizam para adentrar no espaço de dominação e subverter a ordem. Os
percursos desses personagens ainda se encontram perpassados por muitos valores e influências
do centro. Contudo, por caminhos transversais eles trabalham, produzem e (re)criam maneiras
de viver de forma mais digna e significativa. Dentre tantos personagens os pobres se apresentam
como uma figura que semiotiza os muitos “periféricos”, tendo em vista a amplitude de
grupos/pessoas e culturas que agrega em sua subjetividade. Entre os escritores contemporâneos
que apresentam em seus textos uma configuração dos excluídos como sujeitos autônomos e
desviantes, se encontra Conceição Evaristo. Destarte, procuramos, por meio do conto “DuzuQuerença”,
publicado na obra “Olhos d’água” (2014), refletir acerca da figura do pobre na
literatura brasileira contemporânea. E investigar de que forma as personagens, por meio de
trajetórias singulares, configuram uma espécie de Memória coletiva dos marginalizados/pobres,
que se entrecruza com pontos como a ancestralidade e a “comunidade”, resultando em uma
personificação do devir-nós dos pobres na personagem Querença, pertencente ao conto em
questão. Por meio de pesquisa bibliográfica, de cunho qualitativo, com base nos estudos de
Bauman (2003), Souza (2009), Hardt e Negri (2001), etc, a respeito das configurações sociais
que se estabelecem em torno do sujeito pobre nos espaços “reais” de convivência humana na
sociedade, bem como, nos estudos sobre a Literatura Contemporânea de Dalgastagnè (2012),
Ludmer (2007), e Hutcheon (1991). E, principalmente, no conceito de “Literatura de Multidão”,
de Justino (2015), almejamos compreender qual o papel desempenhado pelas personagens do
conto evaristiano para a semiotização dos muitos ex-cêntricos na Literatura Brasileira
Contemporânea, e como se processa/configura essa ação.
Descrição:
BARBOSA, R. T. Devir-nós: ancestralidade, memória e potência dos pobres em "Duzu-Querença". 2016. 31f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras - com habilitação em Língua portuguesa) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2016.