Análise discursiva sob o foco socio-histórico e ideológico em duas composições de origem black metal e temática "pagã ameríndia"

Abstract

O Pagan Black Metal hasteado pela banda brasiliense Miasthenia como ramificação lírica em torno das colonizações física e imaginária dos povos ameríndios conquistados na sul América pelos colonizadores ibéricos, tensiona uma interdiscursividade lírica em defesa ideológica da manutenção, memória e retorno daquilo que o cristianismo destruiu da cosmogonia e liturgias indígenas de outrora e que ainda atenta contra os profetismos e crenças praticadas entre os nativos sobreviventes deste Estado. Nesse sentido, este trabalho propõe analisar, discursivamente, as seguintes composições da banda Miasthenia: “Onde Sangram Pagãs Memórias” e “Essência Canibalística”. A primeira lançada em 2000, encontrada no álbum “XVI”; a segunda em 2004, pertencente ao disco “Batalha Ritual”. Análise letrista essa que terá foco nas interdiscursividades sócio-histórica e ideológica dessas letras, visto que elas se entrecruzam ao tema do “paganismo ameríndio” e pertencem a um gênero e movimento ideológico que fora erguido em torno das sonoridades e práticas, radicalmente, anticristãs de seu grupo, sobretudo, na Noruega: o “Black Metal”. O estudo tem como principal finalidade compreender como a inscrição das memórias religiosas e antigas dos ameríndios, escritas pela banda em suas letras, interligam-se à consciência política do movimento black metal que ela integra e assujeita-se. Além disso, entender como a banda transforma essas lembranças xamânicas em discursos de defesa das crenças e cultos daquele povo – sem fazer dos seus integrantes, se orientados como irreligiosos, também sujeitos que acreditam e praticam as escatologias nativo-religiosas que tanto, liricamente, exaltam. A pesquisa tem um caráter interdisciplinar, além de bibliográfico e documental, servindo-se da “Análise de Discurso” (AD) francesa, da historia colonial e sócio-história black metal, esta delimitada nas produções ideológicas “neopagãs” produzidas tanto pela banda quanto pelo movimento em questão. Para tanto, esta pesquisa se baseou precipuamente nas contribuições de ideologia, memória e interdiscursividade de Pêcheux (1995; 2008) e Orlandi (1999; 2005; 2012). E em paralelo, lançou mão das contribuições etno-históricas em Mahn-Lot (1999), Cunha (1995) e Gruzinski (2001), além da etnografia black metal em Campoy (2005; 2010) e mais os documentários Black Metal Satanica (2008), Det Svarte Alvor (1994) e Satan Rides The Media (1998). Ademais, o estudo viabilizou a perceptiva de que o maior engajamento urbano desse “reavivamento neopagão”, redito nas letras miasthenianas, seria de fazer com que as memórias das práticas cosmogônicas do indígena sobrevivessem ou que fossem resgatadas do esquecimento e interferência política. Além disso, fazer com que essas tradições sejam “reentregues” aos nativos remanescentes deste Estado, historicamente, persecutório do indígena, ou que sejam, eticamente, descristianizadas.