Representações sociais sobre o jovem negro mediados pelo filme "Cidade de Deus"

Abstract

O nosso passado escravocrata deixou marcas que podem ser identificadas por toda a sociedade contemporânea em geral e no cinema em particular. Aqui, nos interessa analisar as representações sociais sobre o jovem negro mediados pelo filme histórico “Cidade de Deus” (dir. Fernando Meirelles, 2002), entre os alunos da Educação de Jovens e Adultos de uma escola pública na Cidade de Queimadas-PB. A pesquisa partiu da premissa que frente às temáticas de exclusão social e da experiência de serem moradores de comunidades, os jovens constroem representações sobre si e sobre o outro. A fim de aprofundar essa questão, identificamos como objetivos específicos da pesquisa: analisar como os alunos da EJA identificam a verdade na história a partir das narrativas fílmicas; compreender como articulam as representações sobre jovens negros; e verificar sua compreensão sobre a consciência histórica. A metodologia utilizada tem caráter qualitativo, com roteiro semiestruturado e entrevista em grupo focal com oito alunos do 6º ano. O referencial teórico é formado pelo conceito de tempo histórico, concepção de história e conhecimento histórico, em Cerri (2011); representação social, em Chartier (1991); o cinema com fonte histórica, em Ferro (1992); representações sociais sobre os negros, em Azevedo (1987); e, jovens pobres urbanos, em Fernandes (2005). Os resultados da pesquisa mostram que, para os jovens, as representações étnico-raciais presentes no filme “Cidade de Deus” (dir. Fernando Meirelles, 2002) são consideradas como verdadeiras, bem como as dificuldades enfrentadas por jovens pobres moradores de comunidades, mesmo reconhecendo que é uma obra de ficção. Observamos que os alunos possuem uma representação social repleta de estereótipos sobre os jovens negros e pobres. Os entrevistados apontam também o quanto ainda existe de preconceito em nossa sociedade, mesmo com as políticas de inclusão social que objetivam superar as exclusões sociais baseadas na etnia dos sujeitos. Identificamos também que nosso passado colonial é um fator determinante na crescente desigualdade social e exclusões que se mantém mesmo em contexto político democrático.