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O presente estudo aponta de forma sucinta o cenário angolano pós-colonial que influenciou a escrita literária angolana e mostra a representação da infância através do conto “Tio, mi da só cem”, do escritor e jornalista angolano João Melo, publicado na coletânea Filhos da Pátria (2001). A narrativa do conto acontece em Luanda, capital de Angola, e apresenta um contexto pós-independência assolado por problemas sociais, políticos e econômicos, expondo a vida de um jovem órfão, que teve a mãe morta e o pai dado como desaparecido durante a guerra civil. O menino foge para a capital, onde passa a sobreviver nas ruas, assaltando e catando lixo para se alimentar. Ele faz uma denúncia à violência da qual se diz vítima, pois foi submetido à marginalização e ao abandono, mesmo contra sua vontade. Observa-se neste conto a denúncia da vida precária que as crianças de Angola levavam e ainda levam. Estas crianças, que deveriam representar o futuro da nação, vivem, na verdade, em situações subumanas, desde cedo convivendo com a fome e a injustiça diariamente. Ao representar o cenário de violência e criminalidade do contexto contemporâneo de Angola, a narrativa do autor também exemplifica um processo importante de crítica na literatura nacional. Acredita-se que, paralelamente, as críticas presentes neste conto acendam sentimentos de esperança trazidos por essas reflexões através de sua leitura, tocando a sensibilidade humana para promover ações de assistência realmente eficazes, embora o que transpareça seja uma visão pessimista da sociedade retratada. Assim, a literatura angolana constitui-se também como um instrumento de humanização, uma vez que contribui para uma reflexão ampla acerca da concepção de mundo contemporâneo. |
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