Uma análise dos conflitos e da representatividade da personagem Annalise Keating em HTGAWM

Abstract

O presente trabalho centraliza uma análise da representação da personagem Annalise Keating, interpretada por Viola Davis como protagonista no seriado How to Get Away With Murder (doravante, HTGWM). O objetivo geral é compreender de que forma a construção ficcional da protagonista e os conflitos por ela vivenciados ajudam a desconstruir estereótipos de gênero, raça e sexualidade. A ficção seriada atua na recriação de sentidos da vida coletiva refletindo o mundo das mulheres na estrutura histórico-cultural. Sob essa perspectiva, o presente estudo parte das representações produzidas com ênfase no debate feminista e antirracista. Os aportes teóricos são embasados em Gonzalez (1988) na discussão do movimento feminista e o movimento feminista negro, aliada à abordagem das mediações da teleficção (MARTÍN-BARBERO, 2004; 2014). A compreensão do viés dramático considera a complexidade narrativa (MITTEL, 2012) para verificação das representações e construções identitárias (HALL, 2004; CHARTIER, 2002). Para a leitura das narrativas seriadas em suas relações com o cotidiano social buscamos respaldo em Sant’Anna (2008). Para embasar o movimento interpretativo, destacamos referências importantes da cultura de séries: Anaz (2018) e Nogueira (2010). A análise temática da narrativa articulou contribuições de Motta (2013) agregando as percepções de um Grupo Focal (COSTA, 2005) com espectadores da produção americana de modo interseccional e dialógico. Em razão disso, o percurso metodológico é de caráter descritivo-interpretativo, cujos pressupostos de observação partem da construção e do contexto da trama, considerando a análise temática das seis temporadas. São apresentadas situações dramáticas nas quais foram verificados: a) a construção de uma personagem com arquétipos e estereótipos multifacetados; b) a representatividade da personagem por meio de experiências culturais e sociais do grupo espectador; c) a criação de uma estrutura temporal anacrônica, que quebra a linearidade e apresenta a personagem em diferentes épocas de sua vida (MITTEL, 2012); e d) a desconstrução de estereótipos raciais sobre a protagonista. Os principais resultados apontam que os estereótipos atribuídos à mulher negra no âmbito do mundo ficcional e social são ressignificados na série, sobretudo no que tange à sexualidade feminina.