"Nas raias do delírio": um olhar sobre a loucura feminina negra em Duzu Querença, de Conceição Evaristo

Abstract

No circuito literário brasileiro a representação da loucura feminina negra comumente se volta para o viés da patologização das formas de ser, devido aos fatores históricos e sociais atrelados a essa temática. Com a tomada de posse da escrita feminina e dos debates feministas, vemos um resgate representativo dessas vozes subalternizadas na literatura. Em virtude dessas considerações, o presente trabalho configura-se como uma pesquisa bibliográfica, que busca analisar o conto “Duzu-Querença”, da escritora brasileira contemporânea Conceição Evaristo, levando em consideração a loucura feminina negra como aspecto literário. Para tanto, nos valemos das contribuições de Remo Bodei (2003), em “As lógicas do delírio” e Michel Foucault (2008), em “História da loucura na Idade Clássica”, para refletir acerca da própria categorização da loucura; no que compete às reflexões e apontamentos sobre o feminino e o recorte racial executado nessa análise, nos valemos da obra “Mulheres, raça e classe” da estudiosa estadunidense Angela Davis (2016); no que se refere às relações estabelecidas entre a literatura e os estudos sociais, utilizamos como aporte teórico o crítico literário Antônio Candido (2016) e, por fim, no que tange à análise e teoria literária, nos valemos das discussões de Arnaldo Franco Júnior (2009) no capítulo “Operadores de leitura da narrativa”. Sendo assim, buscamos por meio deste trabalho investigar as formas que as temáticas do imaginário são abordadas na escrita de “Duzu-Querença”, evidenciando a relevância das questões raciais e de gênero na narração da protagonista e destacando a importância da voz dessa personagem feminina, marcada por perdas durante a vida e que encontra nos delírios uma nova força para viver.