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A literatura afro-brasileira é tecida pela instersecção de diversos saberes, memórias e culturas,
o que provoca deslocamentos nas concepções literárias canônicas, como também oferece
novas possibilidades de reflexão acerca dos discursos literários. Nesse sentido, este trabalho,
de caráter bibliográfico, objetiva analisar como a noção da espiralidade do tempo, na narrativa
Água de barrela (2016), de Eliana Alves Cruz, confronta a lógica linear, uma vez que as duas
temporalidades são representadas na obra. Para essa análise, sob a perspectiva dos estudos
decoloniais, nos embasamos nas contribuições teóricas de Anibal Quijano (2005) e Walter
Mignolo (2017), a fim de compreender a lógica linear enquanto mecanismo colonial que
regula o tempo/espaço das personagens em contexto de subalternização. Tendo em vista que
as temporalidades das personagens em análise partem das cosmovisões africana e afrobrasileira, nos valemos dos pressupostos de Sodré (2017), Oliveira (2007), Martins (2021) e
na leitura e tradução de Santos (2019) acerca do pensamento filosófico de Bunseki Fu-kiau,
com o objetivo de compreender como as tradições Nagô e Bantu oferecem o conceito de
ancestralidade como subsídio para pensar o tempo. Além disso, utilizamos os conceitos de
encruzilhada e performance, elaborados por Martins (1997; 2021), a fim de analisar como a
noção temporal africana se reconfigura no contexto brasileiro. Com base nessa abordagem
metodológica, compreendemos que o conceito de tempo espiralar, ancestralidade e
performance se entrelaçam em um mesmo circuito de significado. Nesse sentido, o tempo
espiraliza quando o corpo performatiza saberes e memórias ancestrais, o que resulta na
interação entre os tempos passado, presente e futuro. Desse modo, identificamos a
representação do tempo espiralar em Água de barrela (2016), a partir da análise das
personagens, as quais se inscrevem como temporalidades espirais, à medida que confrontam
os mecanismos de regulação da lógica linear ao agenciarem movimentos alinhados aos
princípios éticos ancestrais. Assim, as personagens transformam o tempo-espaço em um lugar
de autonomia e possibilidades, recriando novas cartografias de vida. |
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