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Esta pesquisa visa analisar de que forma e em que níveis a condição de ser mulher afeta o protagonismo da cantadeira no mercado cultural da cantoria de repente. Para isso, recorre-se à análise de seis scraps de cantorias transcritos a partir de três eventos de repente realizados nas cidades de Caruaru (PE) e Juazeirinho (PB) nos anos de 2022 e 2023, bem como seis entrevistas realizadas com cantadeiras de diferentes gerações entre os meses de novembro de 2022 e março de 2023. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, bibliográfica, exploratória e documental, a pesquisa propõe-se, como objetivo principal, investigar as intenções e expectativas da mulher repentista no universo androcêntrico da cantoria de repente. Na literatura dialogamos com os autores como Ayala (1988) e Nóbrega (2020) sobre o conceito de cantoria de repente, Paul Zumthor (2005; 2010) sobre a questão da oralidade e da performance e Butler (2017) no que se refere às questões de gênero e Bourdieu (2021) para abordar à dominação masculina. Destarte, os dados revelaram que a cultura patriarcal ainda se faz bastante presente no universo da cantoria de repente, o que tem resultado em preconceito e discriminação de gênero, bem como episódios de diferentes formas de violência contra a cantadeira. Contudo, nota-se também a reprodução desse pensamento, inclusive, no discurso das mulheres repentistas. Em função de sua condição feminina, essas artistas, quase sempre, desempenham apenas o papel de coadjuvante. Ademais, as escassas oportunidades oferecidas a essas profissionais estão, muitas vezes, ligadas ao exotismo que a mulher repentista representa na cantoria de repente. Sua presença atrai um público expressivo nos eventos, despertando o interesse de muitos promoventes e cantadores devido à visibilidade econômica que sua figura proporciona. Portanto, este estudo tem por finalidade contribuir não só para a quebra de barreiras de gêneros e sexismo que resultam em preconceitos, assédios, e formas de violência contra a mulher repentista, reconhecendo a importância e o protagonismo da cantadeira na arte do repente, mas também para combater o preconceito velado contra as manifestações poéticas de tradição oral que se desenvolve em uma região desprestigiada por muitos no país, o Nordeste brasileiro. |
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