Violência simbólica em mídias contemporâneas: uma análise semiótica sobre o fenômeno da misandria no cinema

Abstract

O presente estudo investiga a misandria, definida como “aversão, ódio ou desprezo por indivíduos do sexo masculino” (Houaiss, 2024), e sua presença nas mídias contemporâneas, analisando seus impactos simbólicos e discursivos. A misandria se configura a partir de círculos de violência contra o homem e suas características filogenéticas, antropológicas, sociológicas, filosóficas, psicológicas e sociais. Desse modo, assim como a misoginia violenta um grupo de mulheres, a misandria busca deslegitimar, anular e abolir as ações do homem no mundo. Diante disso, inserido no contexto das discussões sobre violência de gênero, que tradicionalmente privilegiam a misoginia e a homofobia, o estudo buscou respostas para a seguinte questão problema: de que forma a misandria, enquanto manifestação de violência simbólica, é representada no cinema? Para tanto, a pesquisa objetivou investigar como a misandria se manifesta no cinema e os possíveis impactos dessas representações na percepção social das figuras masculinas. Metodologicamente, utilizou-se de uma abordagem qualitativa, em que foram selecionados princípios teóricos da Semiótica Antropológica (Rodrigues, 2011), que permite compreender as construções simbólicas que emergem sobre a masculinidade e os efeitos dessas representações nos sujeitos e no imaginário social. Para sua efetivação, sob essa perspectiva de estudos semióticos, propomos um diálogo com um conjunto de estudos científicos contemporâneos; e a análise de um corpus composto por quatro produções cinematográficas: “Monster – Desejo Assassino” (2003); “A Proposta” (2009); “A Estranha Perfeita” (2007); e “Zerno the Seed” (2016). O estudo corrente buscou apoio da Linguística da Prática (Rodrigues, 2017), além da Teoria do Habitus de Bourdieu (1994; 2012), de Identidade de Hall (2006), e de Mito Masculino de Farrell (2014). A pesquisa justifica-se por ser de grande valia para o contexto acadêmico e social, ao explorar as diversas significações sobre a forma como as mídias reproduzem e amplificam preconceitos de gênero, contribuindo para dinâmicas de poder desiguais. Diante do exposto, a pesquisa revelou uma presença significativa de expressões e atitudes/figurativizações misândricas nas mídias cinematográficas, frequentemente manifestadas de forma sutil, que reforçam padrões culturais prejudiciais e promovem uma visão limitada e negativa da masculinidade, em que tais descobertas destacam a importância de se reavaliar essas representações midiáticas no cinema e em outras mídias.