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Este artigo tem como objetivo analisar a importância das línguas e da literacia para a
formação das identidades dos educandos de Timor-Leste, tomando como referência o
Currículo Nacional do Ensino Básico, primeiro e segundo Ciclos, e as percepções de
profissionais da educação desse nível de ensino. Considera-se que a análise é relevante uma
vez que se trata de um país multilíngue, com duas línguas oficiais, Tetúm e Português, e mais
uma média de 15 línguas e seus vários dialetos, o que torna o ensino ainda mais complexo,
principalmente levando-se em conta que nos municípios muitas pessoas não falam nem Tétum
nem Português. Consiste em um estudo de caso com recurso de questionário, aplicado a um
diretor e a quatro professores que lecionam primeiro e segundo ciclos do Ensino Básico, numa
escola pública do município de Lautém, que fica localizado na zona leste do país, onde
adotam o Tétum, uma das línguas oficiais, e o Fataluco, um dialeto local, como principais
línguas de ensino. A política educacional e curricular leva em conta as variantes linguísticas,
considerando tratar-se de um país multilíngue. Assim, o uso da primeira língua dos alunos,
também é legitimado como instrumento de acesso efetivo ao conteúdo curricular nas
diferentes áreas de conhecimento, quando isto se fizer necessário, ou seja, em comunidades
em que os alunos não falem as línguas oficiais. Para o embasamento legal da proposta
curricular, utiliza-se documentos nacionais de Timor-Leste, tais como: Constituição da
República Democrática de Timor-Leste (C-RDTL); Currículo Nacional do Ensino Básico:
Primeiro e Segundo Ciclos; Lei de Base da Educação (LBE); Plano Estratégico Nacional da
Educação (PENE 2011-2030). Conclui-se que a preservação das línguas nativas se caracteriza
como processo de resistência aos processos de colonização português e indonésio. Todavia,
para além da alfabetização essa política necessita garantir a literacia, ou seja, a apropriação
da/s língua/as com alto nível de competência linguística, tanto em termos de oralidade, quanto
de escrita e dos seus usos nas diferentes práticas sociais das comunidades. É possível inferir,
também, que essa literacia depende do esforço conjunto das autoridades que decidem as
políticas educacionais, os profissionais que implementam essas políticas e as comunidades
que devem dar suporte a essa implementação. Trata-se de um processo complexo, desafiador,
difícil, porém necessário e possível. |
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