Resumo:
Partindo da dramaturgia de Julia Martins, localizamos em seu espetáculo Maria Firmina dos
Reis - Uma voz além do tempo (2019), nas palavras de Janaína Leite (2017), uma
autoescritura performativa. Essa que se realiza através da junção dos elementos dispostos em
cena e fora dela, revelando o encontro entre dois universos. Temos entre os materiais, um
recorte literário da obra de Maria Firmina dos Reis e dados biográficos que se entrelaçam aos
da própria atriz-dramaturga, os quais pudemos analisar com amparo nos estudos de Diana
Klinger (2012) a respeito do espaço autobiográfico, noção desenvolvida por Philippe Lejeune
(2008). Sendo Firmina quem escreveu o primeiro romance de teor abolicionista no Brasil,
porém com uma obra que permaneceu no anonimato por muitas décadas, as informações a
respeito de sua trajetória de vida e as que se encontram compactadas em sua escrevivência (cf.
Evaristo, 2005), resgatam memórias do período escravocrata que nos levam à reflexão das
muitas facetas do racismo. Diante desse percurso, este trabalho busca debater sobre os
aspectos estéticos que compõem essa autoescritura performativa, considerando a sua
articulação dentro do cenário teatral contemporâneo, bem como os debates sociais que a
dramaturgia desperta, dentre eles as representações da mulher negra no Brasil e suas formas
de resistência à elas. Para isso buscamos suporte no pensamento feminista interseccional de
Patrícia Hill Collins (2019) e Lélia Gonzalez (2020). À vista disso, conseguimos, por meio da
análise-interpretação do espetáculo compreender como as vivências das duas figuras centrais
se encontram apesar do distanciamento temporal e o que uma escrita, que se supõe pessoal,
tem a dizer sobre o coletivo.
Descrição:
SILVA, M. K. G. da. Uma análise-interpretação da autoescritura performativa no espetáculo Maria Firmina dos Reis - uma voz além do tempo. 2023. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras Português) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2023.